Em 2022, a Flip retoma as ruas de Paraty
A Flip Paraty 2022 celebra sua 20ª edição retomando as ruas e praças de Paraty. A Festa já tem data para acontecer: de 23 a 27 de novembro de 2022.
Nos dois anos anteriores, frente às dificuldades e urgências impostas pela Covid-19, a Flip precisou se reinventar. Se, por um lado, abraçou o formato híbrido, por outro, colocou-se como um espaço de reflexão e imaginação sobre o mundo – um mundo que começa em Paraty. Foi assim que, em 2021, se inspirou na força e na diversidade da natureza da qual brota a cidade e sua cultura para, pela primeira vez, colocar em pauta um tema: Nhe’éry, plantas e literatura. Um dos destaques da edição foram as intervenções videográficas que abriram as mesas, trazendo a vida, os percursos e os saberes tradicionais da região para o centro dos debates.
Em seus 20 anos de história, a Flip tem se posicionado como um laboratório de reflexão, em que encontros e atividades buscam pensar saídas para as crises contemporâneas. A cultura, por meio da literatura em seu conceito expandido, o que inclui todas as manifestações artísticas, permite alavancar narrativas que inspiram a cooperar e seguir em frente. A Flip Paraty 2022 promete surpreender.
Flip virtual
Nos últimos dois anos, a Flip foi realizada em formato híbrido, com mesas virtuais e programação em espaços parceiros, que ultrapassaram os limites de Paraty, chegando a locais como Parauapebas e Canaã dos Carajás, no Pará. Os ambientes virtuais, no entanto, não são uma novidade na história da Flip. Já em 2003, quando estreou com 22 autores convidados, foram criadas estruturas para a transmissão simultânea dos encontros, que ecoaram nos espaços públicos da cidade. Desde então, a Festa sempre apostou no uso de ferramentas e canais virtuais para ampliar sua presença nas ruas. Em 2022, a Flip seguirá conectando essas experiências por meio de uma rede de instituições parceiras pelo país.
As discussões da 19ª Flip foram aprofundadas em uma publicação, Ensaios Flip: Plantas e literatura. Clique aqui para ver o conteúdo da programação principal e aqui para conhecer o programa educativo.
HISTÓRICO
Desde 2003, quando estreou em um espaço improvisado com pouco mais que vinte autores convidados, a Flip se conectou intimamente ao território que a recebeu. Pioneira em ocupar os espaços públicos com cultura, a Flip é um momento importante para o debate de ideias e um ponto de encontro de toda a diversidade – o F, afinal, é de festa.
Cada edição reúne um vigoroso time de escritores e pensadores, de diferentes origens e perspectivas, para se encontrar com o público em Paraty e, cada vez mais, nos ambientes digitais, alcançando pessoas do mundo todo.
Pela Flip já passaram autores das mais variadas origens, tendências e linguagens. Entre os nomes internacionais, encontram-se Svetlana Aleksiévitch, Chimamanda Ngozi Adichie, J. M. Coetzee, Anne Enright, Jonathan Safran Foer, Nadine Gordimer, Karl Ove Knausgård, Ian McEwan, Toni Morrison, Amós Oz, Paul B. Preciado, Salman Rushdie. Entre os nacionais, estão Adélia Prado, Antonio Candido, Caetano Veloso, Conceição Evaristo, Davi Kopenawa, Ferreira Gullar, Milton Hatoum, e também muitos jovens escritores e escritoras.
É a dimensão do encontro que norteia as muitas linguagens empenhadas na construção de cada Flip: arquitetura, design, cenografia, urbanismo. Cada detalhe é pensado a partir da transformação dos espaços públicos, que ano após ano vão acumulando camadas de apropriação afetiva por visitantes e moradores.
O encontro da literatura com as ruas resulta em uma experiência singular a céu aberto, que começou a ser construída uma década antes da primeira Flip, e se aprofunda com ações voltadas ao território e de caráter educativo que a Flip realiza durante o ano todo em Paraty.
Território
Desde 2003, a Flip promove anualmente uma experiência única em Paraty. Quem já foi, sabe: a Festa é das artes, mas as mesas literárias são só parte de uma verdadeira manifestação cultural vivida nas ruas. Em conexão íntima com a cidade que a recebe, a Flip é o resultado da comunhão entre as forças vivas de Paraty e as programações de cada ano.
Sua singularidade vem sobretudo do modo como ocupa os espaços públicos com cultura. Com uma concepção arquitetônica, urbanística e artística pensada especialmente para cada ano, a Flip oferece aos visitantes e moradores de Paraty a experiência de habitar um território ativado pela arte. Para plasmar intervenções urbanas à altura do legado da cidade histórica, é necessária uma investigação a longo prazo, que começou uma década antes da primeira Flip e mira para o futuro, com projetos de requalificação de estrutura permanentes.
Ano após ano, esses espaços são redimensionados pela memória e pelo afeto do público, que enxerga um caráter identitário mesmo nas estruturas temporárias, como os auditórios. Em linha gerais, a Flip está de tal modo enraizada a Paraty, contribuindo com a integração do tecido social da comunidade, que é tida como um espaço permanente que atravessou dezessete anos.
Essa concepção urbanística da Flip rendeu ao projeto e ao arquiteto Mauro Munhoz, em 2011, o Prêmio APCA na categoria “Urbanidade”. A premiação é, segundo os organizadores, um reconhecimento do projeto no que diz respeito à vivência democrática, integração entre artes e cultura, valorização dos espaços públicos e da vida comunitária.
Camila Sosa Villada tem presença confirmada na 20ª edição da Flip Paraty 2022
Depois de anunciar a norte-americana Saidiya Hartman e a brasileira Cida Pedrosa, a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip Paraty 2022 confirma a participação da argentina Camila Sosa Villada em sua 20a edição. A festa acontece de 23 a 27 de novembro, em Paraty.
Formada em comunicação social e teatro na Universidade Nacional de Córdoba, Camila tornou- se conhecida por fabular a partir do seu próprio universo de mulher trans. Iniciou sua carreira como atriz em 2009, ano em que foi reconhecida internacionalmente pelo espetáculo Carnes tolendas, retrato cênico de uma travesti, no qual entrelaça sua história de vida e o universo poético de Federico García Lorca.
“Além de ótima autora, Camila Sosa Villada é uma grande atriz, como se pode ver em filmes como Mía, que também tornam sua voz inesquecível. A presença dela vai encantar o público da Flip”, comenta Fernanda Bastos, uma das curadoras da festa, que acrescenta: “Ela articula realismo e fantasia para libertar, no coração de suas narrativas, personagens que são marginalizadas no tecido social. Ela sacode noções de família, força, amizade, corpo e amor”.
O diretor artístico da Flip Mauro Munhoz destaca a importância da presença da autora: “A arte tem o poder de gerar novos olhares e Camila nos presenteia com uma mirada rica sobre aquilo que nos faz humanos: a capacidade de sentir, sonhar e imaginar. Está no DNA da Flip promover a transformação através da literatura, e quanto mais formas e vozes tivermos, melhor essa missão será cumprida”.
Herdeira do realismo fantástico, a ficção de Camila Villada não apenas dá voz e corpo a um segmento invisibilizado da sociedade, mas surpreende com um universo de referências e sensibilidades que é tão real quanto simbólico. “Sua obra exterioriza dores, delírios, desejos e violências do universo das travestis transformando-os em símbolos exuberantes de vida e de sobrevivência. A escritora consegue polir com magia as feridas, os sacrilégios sociais, os infortúnios e tragédias e nos oferecer uma escrita que coloca no seu centro a existência coletiva visceral de corpos interditados, deixando uma marca única na literatura latino-americana contemporânea”, explica a curadora Milena Britto.
A primeira obra publicada por Camila foi o livro de poemas La novia de Sandro, em 2015, mas foi com Las malas, de 2019, traduzida para várias línguas e intitulada, no Brasil, como O parque das irmãs magníficas (Planeta), que conquistou público e crítica, recebendo o prêmio Sor Juana Inés de la Cruz da Feira Internacional del Libro de Guadalajara (FIL), em 2020.
Sobre o livro, Pedro Meira Monteiro, do coletivo curatorial da Flip, comenta: “Momento alto da literatura latino-americana contemporânea, o último livro de Camila é uma viagem pelos espaços interditados do desejo mais pleno. Meio exército de Brancaleone, meio célula guerrilheira, o grupo de travestis pelo qual se move o alterego da autora é um espaço surpreendente: duro, frágil, machucado e muitas vezes violento, mas solidamente erguido sobre uma insuspeitada e comovente ternura”.
Camila acaba de lançar um novo livro, que será publicado no Brasil em novembro, mês em que é celebrada a Flip Paraty 2022. Sou uma tola por te querer (Planeta) reúne nove histórias que giram em torno de personagens ao mesmo tempo extravagantes e comuns.
Conheça os curadores da 20ª edição da Flip PARATY 2022
No ano em que celebra sua 20a edição, a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty terá, mais uma vez, uma curadoria coletiva, trazendo profissionais que representam a diversidade de vozes e visões sobre a cultura brasileira.
“Foi a motivação em nos aproximar de leitores de diversas comunidades e territórios que nos levou aos nomes de Fernanda Bastos, jornalista gaúcha, Milena Britto, professora da UFBA, e Pedro Meira Monteiro, que é de São Paulo, mas trabalha como professor na Universidade de Princeton”, destaca Mauro Munhoz, diretor-artístico da Flip. E arremata: “Cada um dos três, à sua maneira, está atento à formação de leitores com novas sensibilidades em diferentes partes do país e do mundo. Essa escolha é de certa forma uma celebração da origem da Flip.”
A escolha de curadores de fora do tradicional eixo Rio-SP visa ampliar essa discussão entre o local e o mundial, dando destaque para a riqueza e a diversidade cultural do Brasil, em um contexto de compreensão da literatura como um campo expandido, capaz de criar pontes entre as diversas formas de arte e conhecimento. “Somos uma festa de expressão das diversas vozes locais que vêm de toda parte do mundo. A construção de vínculo entre essas duas dimensões, local e universal, é uma das coisas mais potentes que a literatura propicia”, ressalta Mauro Munhoz.
Os curadores
A gaúcha Fernanda Bastos é jornalista, tradutora e editora de livros. Fundou, ao lado do crítico literário Luiz Mauricio Azevedo, a editora Figura de Linguagem, casa negra e independente sediada em Porto Alegre, para a qual colabora com traduções, como a do volume de poemas da afroamericana June Jordan. Atua como apresentadora na TVE RS e no podcast Onda Negra, da Plataforma Feminismos Plurais.
Baiana de Salvador, Milena Britto é professora na Universidade Federal da Bahia e, entre outros temas, pesquisa gênero, literatura e estratégias de legitimação no campo literário. Foi professora visitante na Universidad Andina Simón Bolívar, no Equador, e pesquisadora visitante na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Além da carreira acadêmica, tem atuação em políticas públicas para a área de literatura, participa de ações voltadas para a difusão de leitura, é crítica literária e curadora de diversos projetos culturais.
Pedro Meira Monteiro é professor brasileiro na Universidade de Princeton, onde fundou, com João Biehl, o Brazil LAB (Luso-Afro-Brazilian Studies), que congrega pesquisadores de diversas áreas e inúmeros países. É autor, tradutor e organizador de diversos livros e foi pesquisador-visitante e palestrante em universidades no Brasil e no mundo. Na E-galáxia dirige, com Ricardo Lísias e Tiago Ferro, a série Peixe-elétrico Ensaios.
Fonte: Site Oficial da Flip